Por que escrever?
Porque sinto a necessidade de começar a escrever, e o que espero obter com isso?
Como um estudante para o vestibular do ITA — o mais difícil do país —, acostumado com questões que estão além do imaginário comum e com assuntos que requisitam que sejam revisitados múltiplas vezes até que dominados, percebo agora que o meu maior medo não é a física, nem mesmo a da prova de 2014 ou a de 2024, mas sim redação.
Tendo-a ignorado por anos, não pude fazê-lo nesta tentativa, sob pena de mais anos de estudo, e tive que descobrir, ou melhor, aceitar que eu não sei escrever. Isso se verifica na minha preferência exclusiva de usar o Word invés do papel, nas minhas pesquisas incessantes antes do texto e durante sua confecção, no meu cálculo milimétrico de cada oração, nas infindáveis horas que deveriam se reduzir a três, e no labor necessário para elaborar um argumento (e as redações pedem dois... que horrível!)
Porém, o problema é mais sério e mais profundo. Quantas vezes senti ter esgotado o arcabouço das ideias, findado toda a minha visão de mundo e todo o resto pareceu supérfluo? Ou então, quantas vezes me encantei com um livro, para perceber em seguida que sou incapaz de expressar-lhe as ideias, pois todas estas estão emboladas em minha mente, e que muitas não tardarão a se perder? Quantas vezes, no auge do meu entusiasmo, defendi com convicção teses sem apresentar nenhuma motivação senão minha vacuidade mental mascarada de defesa do senso comum? Quantas vezes tentei difundir aos meus amigos e familiares o brilho das inspirações que Deus ou a Verdade — que são uma só coisa — infundiu em mim, só para cair no pedantismo e na autopercepção de fracasso?
Gramática, Lógica e Retórica. É claro o de que preciso. Escrever é pensar, diz um autor. Portanto, se eu aprender a escrever, aprendo a pensar. Se aprendo a pensar e a escrever, posso começar a aprender a me expressar. Mas como aprender a escrever senão lendo? Assim, não me resta caminho senão redescobrir o que já foi descoberto há séculos e retornar ao jesuitismo odiado por Walter Cowdray e por Pombal.
Com isso, eventuais obrigações de concursos ou do meio acadêmico não serão um peso tão esmagador, mas um natural exercício da racionalidade. Ay! There’s the rub. Ser instruído no uso da razão, é isto o que espero. Afinal, o que há de mais humano que raciocinar? Nada! Quia homo animal rationalis est.
Texto inspirado por:
- Instituto Hugo de São Vitor
- Rodrigo Gurgel
- Clarisse Scofield (verificar os vídeos "Três livros que vão te ensinar a escrever bem" e "Como começar a escrever (bem)?")
- Odysseas (particularmente "Mini Essays: The Ultimate Learning Tool" e "How to Write a Mini-Essay")
- A vida intelectual, de Sertillanges
- A arte de pensar, de Ernest Dimnet
- A arte de escrever em vinte lições, de Antoine Albalat
- Flor do Lácio, de Cleófano Lopes