Bonum agricolam bonumque colonum
“Maiores nostri...virum bonum cum laudabant, ita laudabant: ‘bonum agricolam bonumque colonum’” (De Agri Cultura, Catão)
Afirma Catão, escritor romano, que os mais velhos de sua época consideravam digno de louvores quem fosse um bom agricultor, seja do próprio campo (agricola) ou de outro (colonus).
O que isso diz a nós, que costumamos viver a quase todo momento distante de áreas rurais, sem jamais ter tocado numa enxada?
bonum agricolam...
Pode ser que muitas virtudes fossem atribuídas aos agricultores na época dos pais e dos avôs de Catão. Porém, como estamos na era dos reels e do macarrão instantâneo, considero particularmente a paciência exigida pela vida rural, que aparece, sob esse aspecto, como contraste e antídoto do mal de nossa época.
Não devemos supor, é claro, que tal virtude já não é mais tão importante em nossa vivência, ou que o único meio de obtê-la seja mudando para os campos. Não, as áreas mais importantes de nossas vidas devem ser cultivadas, com paciência e perseverança, todos os dias. Tendo-se lançado as sementes, deve-se fornecer tudo que lhes for necessário. De que sementes falo? Do estudo, das virtudes, de tudo que se refere ao nosso desenvolvimento.
Houve vários períodos em que recomecei o estudo do latim para interrompê-lo após um mês, precisando partir do zero a cada nova tentativa, até que, em 2022, finalmente completei o Familia Romana com um estudo diário de meia-hora. Houve várias vezes em que decidi deixar o celular desligado durante a maior parte do tempo, a fim de vencer o vício e de crescer na virtude da temperança, para abandonar o plano após um dia, e até hoje não me dominei nisso. Quando cultivei, o trigo cresceu. Quando o abandonei, murchou e morreu.
Não basta regar o plantio diariamente. Deve-se fazê-lo até o fim! Um estudo não findado pode terminar servindo para pouco ou quase nada, e uma virtude deixada de lado rapidamente nos escapa. Se Deus interrompesse a criação no quinto dia, não haveria o sexto para coroá-la com o homem. Se Cristo parasse no meio da Via Crucis, a humanidade inteira continuaria sujeita a Satanás. Se nós largarmos nossos arados, nunca nos tornaremos quem nascemos para ser.
bonumque colonum...
Pois essa é a verdade. Deus nos criou para que cada um de nós se torne sua melhor versão. Tudo isso que devemos cultivar, foi Ele quem nos deu. Conta a parábola que um senhor, antes de partir em viagem, deu a um servo cinco talentos, a outro dois, e ao terceiro um somente. Diligentes, os dois primeiros foram de imediato ao trabalho, fazer render o dinheiro que o senhor lhes dera, e o terceiro enterrou a quantia e permaneceu inerte. Podemos agir de ambas formas.
Todavia, se o campo não é nosso, não deveríamos ter maior urgência em começar o trabalho? O estudo que sabemos que nos ajudará na frente, a habilidade importante para o trabalho, a virtude contrária ao vício recorrente que nos afasta de Deus e que nos tira a paz, o cuidado com nossa saúde... Quando o senhor voltar, encontrará tais árvores erguidas e cheias de fruto?
Ademais, esse pensamento não deveria nos tranquilizar? Muitas vezes, durante a vida, podemos duvidar se estamos tomando o caminho correto, ou sentir a tentação de desistir no meio das dificuldades. Ora, não conduz o senhor ao seu servo? Não lhe dá as instruções de tempo em tempo, fornecendo tudo o necessário? Nossos esforços não são em vão. Deus nos pede abandono e confiança.
Caso alguém tenha a oportunidade de ir morar no campo e for chamado a isso, vá! Acredito que o fará um grande bem. Mas a nós que não podemos já cabe uma grande plantação.
Se não formos louvados por tê-la cultivado bem, não será isso um problema. O importante é ouvir, no fim da vida:
‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu senhor!’
Texto inspirado por:
- De Agri Cultura, de Marco Pórcio Catão (versão do Sermones Romani)
- Fábula do Galo e da Pérola, de Esopo (versão de Rômulo, contida no Sermones Romani)
- Parábola do semeador, Mt 25:14-30
- Clarisse Scofield (verificar os vídeos "Três livros que vão te ensinar a escrever bem" e "Como começar a escrever (bem)?")
- Odysseas (particularmente "Mini Essays: The Ultimate Learning Tool" e "How to Write a Mini-Essay")